Imagina você fazer o maior trabalho da carreira, ser alabada por público e crítica, e ficar de fora da lista de indicados à principal premiação de seu mercado, mesmo que seja um grande expoente para a música latina? Quase dez dias depois da divulgação dos nomes que concorrem ao Grammy Latino de 2024, nem Tini deve ter a resposta para essa pergunta.
Un Mechón de Pelo, lançado em 11 de abril deste ano e, portanto, dentro do calendário de submissões da Academia Latina, é um dos melhores trabalhos da temporada. Quiçá, o melhor, nem que seja para colocá-lo apenas entre as publicações do gênero pop.
À época do lançamento, neste mesmo espaço, escrevi que Tini estava buscando a estatueta com “uma sessão de terapia profunda, musicada, e com um incrível poder de conexão com seus fãs (… ) E, sobretudo, é um disco que mostra sua indiscutível evolução artística”.
Evolução que esbarrou no famoso “clubinho do Grammy”, já famoso para os leitores desta coluna. O lobby é escancarado. A sensação é de que se alguns determinados artistas gravarem um álbum de “parabéns pra você”, ainda assim serão indicados. Não que Camilo, Luis Fonsi, Residente, Mon Laferte não tenham deixado bons frutos ao mercado, mas seriam eles os melhores em suas categorias? Laura Pausini e Shakira, por exemplo, até já estão lançando coisas novas mesmo em meio a turnês.
Emocionalmente fragilizada, a argentina parece não ter conseguido mostrar aos chefões da indústria que não é mais a Violetta da Disney. Tampouco a artista sem direção de Cupido. Aos 27 anos, está pronta para a prateleira de cima da música latina. Só não vê quem não quer.
Além dos erros dos muitos erros de avaliação, o Grammy Latino é natimorto por seus critérios, a começar pelo “ano fiscal”. Algumas das propostas parecem ter saídos de outra encarnação, como QLONA, o feat da Karol G com Peso Pluma.
A “maior premiação da música latina” cheira a mofo e perde terreno para seus irmãos Lo Nuestro, Juventud, Billboard e muitos outros. Enquanto o Grammy Latino parece ter a bússola virada para o passado, os outros estão antenados no mercado atual, recente, novo. E, por isso, surpreendem.