Shakira não é adepta de aspas polêmicas, mas sua entrevista para a revista Allure de abril deixou um sabor amargo nos fãs. No papo, a colombiana contou que os filhos não gostaram do filme Barbie, estrelado por Margot Robbie:
“Meus filhos odiaram absolutamente. Eles sentiram que era castrador e eu concordo, até certo ponto. Estou criando dois meninos. Quero que (eles) também se sintam poderosos (ao mesmo tempo) respeitando as mulheres”. Acredito em dar às mulheres todas as ferramentas e a confiança de que podemos fazer tudo sem perder a nossa essência, sem perder a nossa feminilidade. Acho que os homens têm um propósito na sociedade e as mulheres também têm outro propósito”.
O murro na luta feminista, a absoluta falta de coerência anti-machismo e até a falta de respeito da fala com os profissionais que fizeram o filme, hit do cinema em 2023, não acabaram por aí:
“Nós nos complementamos e esse complemento não deve ser perdido. Só porque uma mulher pode fazer tudo, não significa que ela deva” “Por que não dividir a carga com pessoas que merecem carregá-la, que têm o dever de carregá-la também?” “Gosto da cultura pop quando tenta empoderar as mulheres sem roubar aos homens a possibilidade de serem homens, de também proteger e fornecer.”
Shakira contradiz sua história.
Shakira diferencia a criação de meninos e meninas, em pleno século 21.
Shakira foi, para dizer o mínimo, infeliz.
Shakira errou.
Os filhos podem até ter detestado o filme, questão de gosto. Ao expor o que eles acharam, e dessa maneira, a artista subestima a luta diária de milhares de mulheres por igualdade. É machista e ponto. Não tem pano para passar. Afinal, o que dois meninos brancos, milionários, que vivem na bolha do privilégio desde que nasceram, entendem sobre o universo feminino?
Ao expor suas crianças, ela expõe a criação retrógrada que dá a eles. Ela expõe um lado que desconhecíamos – e talvez preferíssemos assim. Ao dizer que concorda com a opinião rasa de duas crianças sobre uma obra que passa longe da superficialidade, a artista decepciona.
Se “Las Mujeres Ya No Lloran”, Shakira, é por mensagens como a do inesquecível monólogo de América Ferrera em Barbie. É pelo cuidado coletivo que pessoas como você, em situação de privilégio, devem ter ao falar sobre temas espinhosos. O título do álbum não deveria ser uma bandeira para catalisar dinheiro e fama, simplesmente. Alguém que sempre foi exemplo de responsabilidade social, em nenhuma hipótese, deveria se permitir errar dessa maneira.
Foi um desvio de rota grotesco, tal e qual seu último disco em sua brilhante trajetória artística.
Não tem defesa.