Na noite deste domingo, 21, em Cannes, Alok teve a sua atuação junto aos povos indígenas brasileiros reconhecida durante evento promovido pela Better World Fund e organizado pela Amazônia Fund Alliance / Unesco. O artista foi homenageado com prêmio por seu comprometimento com os direitos e a cultura dos povos originários no contexto da promoção de um mundo mais sustentável. O prêmio foi entregue pela Deputada Federal Célia Xakriabá e pelo Cacique Mapu Huni Kuī, atualmente atuando na novela Terra e Paixão (Globo).
“Em nome do nosso querido amigo e DJ Alok, estamos aqui para agradecer este prêmio e para lembrar a todos sobre a importância de se preservar a floresta, as vozes indígenas. Não basta saber o canto, as rezas sagradas dos povos originários, é preciso também proteger as vozes e as vidas dessas pessoas que cantam e o Alok entendeu isso. Este prêmio é para ele, porque aprendeu não só o canto, mas também a importância de dar proteção e de defender as vozes e os corpos dos indígenas. Aproveito a ocasião para dizer que é urgente a demarcação de terras indígenas, bem como é urgente resistirmos contra a aprovação do PL 490 e o Marco Temporal que altera a legislação da demarcação de terras, flexibiliza o contato com povos isolados, proíbe a ampliação de terras que já foram demarcadas e permite a exploração de terras indígenas por garimpeiros”, afirma a deputada Célia.
Já Mapu, após cantar uma reza sagrada de seu povo para abençoar a todos presentes, complementou a fala de Célia. “Eu quero dizer que acredito e confio muito em cada um de vocês para a gente fazer a diferença não somente em palavras, mas em ação. Fazer a diferença pela proteção da humanidade, para um clima mais saudável, uma água mais pura para as futuras gerações, pra que nós possamos manter o mundo equilibrado. E por fim, quero agradecer à Unesco e toda irmandade que nos acolhe e abriu as portas para que pudéssemos estar aqui presentes, trazendo essa aliança espiritual. Por último, quero agradecer o nosso DJ e irmão Alok, porque o futuro é ancestral”, finaliza o cacique.
Alok, que não pode comparecer ao evento de forma presencial por estar em turnê nos Estados Unidos, onde se apresentou em Las Vegas, na 27ª edição do Eletric Daisy Festival (EDC), participou através de vídeo chamada e em seu discurso reafirmou a importância dos povos originários ocuparem os mais diversos espaços sociais.
Foto: Divulgação
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“Estou muito emocionado: este prêmio significa muito para mim! Estou triste de não estar aí com vocês, em função da turnê que estou fazendo na América do Norte. Agradeço à Better World Fund, ao Amazon Fund Alliance e à Unesco, e quero compartilhar este prêmio com a comunidade indígena brasileira que há séculos vem lutando pela valorização de sua identidade e pelo seu direito de viver. No Brasil, o que é ensinado nas escolas até hoje é uma visão colonizadora que omite a importância da cultura, do conhecimento e da sabedoria de um povo que há milhares de anos vive respeitando, celebrando e preservando a natureza.”
O artista também relembrou quando em 2015 teve seu primeiro contato com o povo Yawanawa, nas profundezas da Amazônia. Um encontro que transformou sua vida.
“Lá, com eles, percebi que enquanto eu fazia música buscando uma fórmula para chegar ao sucesso, a música para eles tinha uma função: curar as pessoas e trazer equilíbrio e consciência sobre como podemos viver em harmonia com a natureza”. Hoje, quando procuramos soluções para o impacto causado pelas mudanças climáticas, a única certeza que eu tenho é que precisamos ouvir o que a floresta tem a dizer, e a melhor maneira para isso, é através da música dos guardiões das florestas. Em 2021, durante um ritual, eu me perguntava “para onde estamos indo, qual é o nosso futuro?”. E recebi uma resposta: ‘O FUTURO É ANCESTRAL’. Parei todos os meus outros projetos e convidei artistas de 8 etnias indígenas de todas as regiões do Brasil para co-criar um álbum de músicas que lançaremos globalmente nos próximos meses. Está lindo, tenho certeza de que vocês vão amar! Vocês verão que não é preciso entender seus idiomas para sentir o que a natureza fala através deles. O Futuro é Ancestral é também um up coming documentário que será lançado ano que vem e tive o privilégio de compartilhar pela primeira vez, o teaser aqui com vocês. Porém, entendi que O Futuro é Ancestral não pode ser somente um projeto, um álbum e um documentário. Ele precisa se tornar um movimento, para reflorestar o imaginário coletivo da nossa sociedade e sua percepção em relação aos povos originários e sua presença em múltiplos territórios. Não é somente da terra, das florestas que estamos falando. Precisamos que eles ocupem as telas, os games, as músicas, as universidades as corporações e a política, para co-criarmos um futuro sustentável.”
Ao citar o Instituto Alok em parceria com o UN Global Compact e a We Light, o artista informou que lançou o fundo ANCESTRAIS DO FUTURO, convidando todos a fazerem uma aliança, para que possam apoiar projetos ambientais, culturais e o uso de novas tecnologias para melhorar a qualidade de vida nas aldeias. Mas, especialmente, para o financiamento de produções indígenas de cinema.
“Eles precisam contar suas próprias histórias! E como os próprios indígenas dizem, o cinema é o arco e a flecha do presente. É a ancestralidade e tecnologia apontando para o futuro. Vamos juntos nessa?”.
Alok se despediu deixando um abraço para os amigos presentes na cerimônia, Sônia Guajajara, Célia Xakriabá e Mapu Huni Kui, Cacique e Mestre Raoni Expressou sua gratidão por ser acolhido por eles em seu desejo de contribuir a esta causa.
O prêmio foi recebido pelos diretores do Instituto Alok, Devam Bhaskar e Fábio Soares. Vale lembrar que, no último mês, Alok esteve na sessão solene de abertura da 19 edição do Acampamento Terra Livre, na Câmara dos Deputados, em Brasília, quando defendeu uma “economia verde” e incentivo a um maior protagonismo dos povos indígenas na indústria do entretenimento (cinema, música e games), enfatizando que eles são os principais responsáveis pela manutenção da biodiversidade mundial e que precisamos aprender a ouvir suas vozes. Já em setembro do ano passado, Alok e alguns artistas indígenas marcaram presença na Climate Week da ONU, em NY, para realizar uma performance musical e lançar o fundo social “Ancestrais do Futuro” para apoio a projetos (o Fundo é uma parceria do Instituto Alok com o Pacto Global Brasil da ONU e a WeLight).
Em Cannes, durante o principal festival de cinema do mundo quando as lentes da mídia se voltam à riviera francesa, o fundo “Ancestrais do Futuro” foi apresentado em jantar beneficente para receber recursos da Amazônia Fund Alliance com o objetivo de financiar ações indígenas nas áreas de produção cultural, formação tecnológica e uso de tecnologia para o bem-viver nas aldeias (proteção territorial, preservação ambiental, saúde e educação).
“Nosso objetivo é criar uma aliança pelos povos indígenas e pela floresta tropical por meio do apoio à sua expressão cultural, da conservação e ao reflorestamento, de mãos dadas com importantes organizações brasileiras como o Instituto Alok, a SPVS Mata Atlântica e SOS Amazônia”, diz Thierry Klemeniuk, co-fundador da Amazônia Fund Alliance.
Durante o evento que teve ainda a presença da Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, do Cacique Raoni Metuktire, do cineasta Oliver Stone, entre outros, foi exibido o trailer do documentário O Futuro é Ancestral, que aborda os processos de criação musical entre etnias indígenas e Alok. Realizado pela produtora Maria Farinha Filmes, o material tem a intenção de expandir a consciência do público sobre a cosmovisão dos povos originários, que reúne arte-território-ecologia-espiritualidade-cura.
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