O cantor e compositor italiano Gianluca Grignani entrou em litígio com a colega Laura Pausini por causa da versão da música La mia storia tra le dita, incluída no álbum Io Canto 2, lançado recentemente pela artista em várias línguas. Grignani acusa Pausini de “estravolgere” — ou seja, alterar profundamente — o sentido da canção ao modificar trechos da letra sem sua autorização. O principal ponto de discórdia está em um verso originalmente escrito em primeira pessoa, no qual o narrador admite seu erro: “E se davvero non vuoi dirmi che ho sbagliato, ricorda un uomo a volte va anche perdonato”. Na interpretação de Pausini, a frase passou para a segunda pessoa — “hai sbagliato” —, transformando a confissão de falha em uma acusação dirigida ao outro. Segundo Grignani e seu coautor Massimo Luca, essa pequena mudança gramatical distorce a mensagem central da obra, alterando o tom emocional e narrativo.
Além disso, a versão gravada por Pausini termina com um trecho inexistente na canção original — “Ok, te ne vai” —, o que aumentou a insatisfação de Grignani. O artista afirma ainda que não foi consultado sobre essas modificações e só tomou conhecimento delas após o lançamento, alertado por fãs. No último dia 19 de setembro, Grignani e Luca conferiram mandato ao advogado Giorgio Tramacere, que enviou uma notificação formal de a Pausini, pedindo a interrupção da circulação da versão modificada e a preservação da integridade da obra.
A equipe de Laura Pausini, por sua vez, sustenta que todas as autorizações necessárias foram obtidas e que o projeto havia sido comunicado a Grignani meses antes. Em notas à imprensa, representantes da cantora consideraram a polêmica exagerada e chegaram a classificá-la como “ridícula”, defendendo o direito da intérprete de revisitar clássicos da música italiana em novas roupagens.
O episódio traz à tona uma questão sensível no mercado musical: até que ponto um intérprete pode adaptar uma obra sem ferir os chamados “direitos morais” do autor, que garantem ao criador o poder de preservar a mensagem original da canção. Caso avance na Justiça, o processo poderá levar à retirada da versão de Pausini das plataformas de streaming ou a uma indenização por danos morais e patrimoniais a Grignani e Luca. Mais do que um embate legal, a disputa reacende o debate cultural sobre os limites entre a liberdade artística de interpretação e o respeito à essência criativa de uma obra consagrada.


