Voz frequentemente ativa na defesa dos direitos de pessoas LGBTQIA+, Madonna anunciou novas datas para a ‘Celebration Tour’, incluindo um show beneficente em Nashville, no Tennessee, em prol dos direitos civis de pessoas transgênero.
Em uma declaração que afronta diretamente as legislações anti-LGBTQ+ que os conservadores americanos estão tentando aprovar para os Estados Unidos, Madonna disse:
“A opressão dos LGBTQ+ não é somente inaceitável, mas desumana; cria um ambiente inseguro; torna a América um lugar perigoso para a maioria de nossos cidadãos vulneráveis, especialmente mulheres trans não-brancas. Também, essas chamadas “leis para proteger nossas crianças” são infundadas e patéticas. Qualquer um com metade de um cérebro sabe que não se deve mexer com uma drag queen. Bob [uma drag queen] e eu veremos vocês no palco em Nashville, onde iremos celebrar a beleza da comunidade queer”.
Há alguns meses, a retórica “anti-pessoas trans” vem ganhando o centro do debate americano e mobilizando artistas do país comprometidos com a militância.
No início de Março, Donald Trump, que, novamente, está tomando os holofotes para si através de discursos inflamados, foi intensamente aplaudido durante uma convenção do Conservative Political Action ao afirmar que, caso seja reeleito em 2024, irá proibir a “castração química e a mutação sexual” de crianças.
Com isso, o ex-Presidente dos Estados Unidos se refere aos tratamentos afirmativos de gênero destinados a pessoas trans, desde a prescrição de bloqueadores de puberdade e hormônios até cirurgias para readequação de gênero.
É fato notório que os estados dos Estados Unidos podem editar leis próprias sobre temas de interesse nacional – diferentemente do Brasil – e o Alabama, um dos mais conservadores do país, em 2022, foi pioneiro na questão, aprovando um texto que prevê pena de até 10 anos para os médicos que realizarem tais procedimentos.
Segundo o site ig.queer, a lei também prevê a proibição de abordar identidade de gênero e diversidade sexual nas escolas até a 5° série, inspirado em um projeto da Flórida, reduto de Trump. Em 2023, legislações de cunho anti-trans com o mesmo tipo de previsão estão em andamento em outros 29 estados dos Estados Unidos.
O estado do Tennessee, que tem sido altamente visado pelas críticas dos artistas, recentemente também aprovou uma lei que proíbe os tratamentos afirmativos de gênero, além de impor regras rígidas para apresentações de drag queens.
Sem se se referir, explicitamente, aos shows de drag queens, a legislação do Estado mudou a definição de “cabaré adulto” para “apresentações voltadas para adultos que são prejudiciais para menores”, o que inclui shows de “imitadores femininos ou masculinos”, equiparando-os a dançarinas de topless, go-go boys, dançarinos exóticos e strippers.
Além disso, a nova lei também faz questão de banir as apresentações de drags de locais públicos ou locais onde menores de idade podem estar presentes. Anteriormente, um aliado do governador do Tennessee havia apontado que a lei tratava de “shows de drag sexualmente sugestivos”, considerados impróprios para crianças.
No último dia 23, a cantora country, Maren Morris, também participou de um show beneficente em apoio à comunidade queer e subiu ao palco ao lado de algumas drag queens do programa, Ru Paul’s Drag Race, como Asia O’Hara e Maura Mayari, chegando a desafiar a polícia de Nashville a prendê-la: “Sim, eu apresentei meu filho para algumas drag queens hoje. Então, Tennessee, me prenda”.
A voz de ‘The Middle’ já havia participado de um episódio do reality show, onde afirmou que sentia muito por todos os ataques à comunidade, partindo de conservadores de seu meio:
“Vindo do country e me relacionando com membros da comunidade LGBTQ+, eu apenas quero dizer que sinto muito. Eu amo vocês por me fazer sentir como uma voz corajosa na música country. Então, eu apenas agradeço muito a vocês por me inspirarem”, comentou.
Especialistas em saúde e militantes LGBTQ afirmam que as leis anti-trans que estão sendo sendo pautadas pelos Republicanos não são baseadas em ciência. Enquanto o tratamento para jovens transgêneros é altamente individualizado, especialistas dizem que a maioria das transições têm início socialmente, ou seja, quando essas se apresentam publicamente no gênero em que se identificam.
Adolescentes, talvez, considerem “bloqueadores de puberdade” para pausar temporariamente o desenvolvimento sexual, frequentemente oferecido antes de qualquer terapia hormonal para mudança de gênero ou cirurgia de redefinição de gênero, a qual não é comumente feita até os 18 anos ou mais. Ainda, segundo o The Guardian, as pesquisas indicam que são raros os casos de arrependimento entre pessoas trans.
Além de concretamente criar um ambiente inseguro para as pessoas LGBTQ+ no país através das leis, o crescente discurso vilanizando o tema faz crescer a violência e a discriminação contra membros da comunidade.