Sem delongas, a resposta é sim. Enquanto for emocionalmente necessário, esse será o caminho de Shakira na música. A chegada de TQG (Te Quedó Grande), a parceria com Karol G, nesta sexta-feira (24), mostrou que a ferida ainda está aberta. E ferida aberta só cicatriza com cuidado.
Nesse caso, o cuidado é a escrita terapêutica. E tá tudo bem.
Aliás, Shakira mostra que é possível acabar com o silenciamento ao qual as mulheres foram impostas por séculos. Ninguém precisa sofrer, ser traída, enganada, e ficar calada.
Shakira mostra muito mais do que isso: é a hora de tirar os homens do comodismo patriarcal de trair e não ser exposto ou ridicularizado. Mais uma vez, ela é serviço, tendência e exemplo.
Em meio à chuva de apoios que vem recebendo, a colombiana tem uma crítica aqui, outra acolá, ao seu modo de lidar com o rompimento da relação de mais de uma década. Seus detratores apontam, principalmente, pela exposição “por tabela” dos filhos. Só se esquecem de colocar na equação a parte que cabe a Gerard Piqué: da geleia ao etarismo.
Ah, claro. É preciso ressaltar que a maior parte das críticas vem dos homens, tão acomodados a uma vida de erros e panos passados.
É o terceiro arremate de Shakira a Piqué: o primeiro, com Ozuna, veio suave em Monotonía:
No fue culpa tuya, ni tampoco mía
Fue culpa de la monotonía
Nunca dije nada, pero me dolía
Yo sabía que esto pasaría
A segunda, quiçá no auge da dor e da humilhação, foi a bombástica Sessions 53 com Bizarrap, de onde saiu a icônica frase: A ti te quedé grande por eso estás con una igualita que tú. Talvez, a estrofe seja a mãe da collab com Karol G, mais irônica, mais feminina (e feminista), lembrando que Karol G também tem uma história de separação difícil com Anuel:
Bebé, ¿qué fue? No pues, qué muy tragaíto’
¿Qué haces buscándome el la’o? Si sabes que yo, errores, no repito
Dile a tu nueva bebé que, por hombres, no compito
Que deje de estar tirando que, al meno’, yo te tenía bonito
Os créditos mostram que as duas artistas estiveram presentes na composição da letra. E é impossível não imaginar que ambas riram, choraram, intercambiaram dores e fizeram do momento sua terapia.
Algum dia, e espero seja breve, Shakira volte a falar de amor. Mas não espero que seja breve porque me cansa vê-la atirando no mesmo alvo. Como mulher, estendo minha mão, ofereço ombro e compreensão. Como fã, me divirto. Como crítica, entendo e avalio que todas são letras e melodias bem construídas.
Quem exige a perfeição de uma mulher estraçalhada por dentro é, no mínimo, pouco empático. Que sejamos nós os interlocutores das sessões de “desahogo” de Shakira em sua terapia musical. Enquanto a dor exista e persista. Até que ela esteja pronta para virar a página.