Em depoimento concedido à jornalista Lola Ferreira para o portal UOL, a ex-governanta Edna Santos afirmou que “nunca disse ‘não’ e gostaria de entender quando foi que virou um monstro” para a ex-patroa, a empresária Paula Lavigne.
As duas se enfrentam agora na Justiça após uma demissão por “quebra de confiança” e uma acusação de furto. Edna nega e define como “humilhantes” os 22 anos em que esteve trabalhando na casa da esposa de Caetano Veloso.
O assunto ganhou repercussão recente após Edna acionar a Justiça e pedir uma indenização no valor de R$ 2,6 milhões por direitos trabalhistas que alega não ter recebido.
Ela trabalhava com o casal Lavigne-Veloso desde 2002, dividindo-se entre as funções de empregada doméstica e governanta, mas foi demitida por justa causa no último dia 6 de maio.
Edna afirma, também, ter sofrido abusos no antigo emprego e diz que foi acusada de furtar uma alta quantia em dólares (cerca de 15 mil, segundo relatos) que o artista baiano e sua esposa guardavam em casa, em seu closet. Foi então que, conforme relatos, Lavigne teria iniciado uma investigação privada a fim de apurar responsabilidades sobre o sumiço.
A ex-funcionária teria entregado para Paula, voluntariamente, extratos bancários dos últimos sete anos, a fim de demonstrar que todo seu dinheiro provinha de trabalho.
“Nada disso foi suficiente para que Paula parasse de assediar Edna. Até que no dia 3 de maio, Paula Lavigne confiscou o telefone celular de Edna e violou o sigilo de duas comunicações, acessando conversas pessoais e fazendo backup dos dados privados de Edna”, informou a defesa.
Depoimento
Ao UOL, Edna detalhou sua trajetória com a família Lavigne-Veloso e disse que foi contratada, inicialmente, como arrumadeira. Com o crescimento da confiança dos patrões, passou a atuar como governante e foi contratada por sua produtora — ainda que as funções continuassem restritas à casa, com exames, roupas e viagens. A
dedicação, em suas palavras, não era reconhecida, inclusive, quando abastecia, independente do horário, as badaladas festas no apartamento de Paula, que reúnem frequentemente famosos.
“Ela é uma pessoa muito temperamental, então ela oscilava muito. Eu escutava das pessoas que sem mim a casa não funcionava, mas no dia a dia com ela era bem difícil, então eu me questionava. Eu falava com ela que não precisava ser tão áspera e tão dura para que eu a reconhecesse como patroa. Mas ela me humilhava”, disse à reportagem.
Paula também faria xingamentos e se referiria ao corpo e ao cabelo de Edna, que era constantemente chamada de “incompetente”, de modo depreciativo. “Se eu engordava um pouquinho, me chamava de gorda na frente de todo mundo. Eu chegava a chorar”, relata.
Após o sumiço dos dólares, a ex-governanta afirma ter percebido uma mudança de comportamento. Ela também chegou a ser interrogada por quase uma hora e diz que o ponto alto da situação ocorreu no dia 3 de maio.
“Sem motivo aparente, segundo Edna, Paula gritou: “Esse celular é meu?”. Ela confirmou que sim, era o aparelho funcional, mas que também se tornou pessoal, devido ao tempo de trabalho, dedicação à casa e total disponibilidade para a ex-patroa. Ao ouvir a afirmativa, Paula tomou o aparelho de Edna, a obrigou a ficar isolada em um quarto e trancou-se em outro. Minutos depois, pediu a senha do aparelho, sempre de acordo com o relato de Edna”.
A reportagem afirma que Lavigne pediu a outra funcionária para que fizesse o backup do aparelho e tirasse sua identificação facial.
“Depois, ela falou assim: ‘agora pode trabalhar’. Como eu posso trabalhar? Eu não conseguia ficar em pé, estava me tremendo. Eu tenho problema de pressão alta e a pressão começou a subir, eu não conseguia respirar e fiquei num estado de pânico, totalmente de pânico. Eu não conseguia falar, só chorava. Eu pensei que iria morrer. Fui para o hospital, me medicaram. A médica perguntou o que aconteceu e eu falei que minha patroa estava botando muita pressão em mim”, conta. Splash teve acesso ao boletim médico”, prossegue o texto.
Ao retornar à casa, Edna afirmou que não conseguiria mais seguir daquela forma, com sua saúde afetada. Ela se prontificou, conforme relata, a treinar outra funcionária para sua função e sair somente quando a casa estivesse funcionando bem. Paula, então, teria aceitado, mas foi interrompida no dia seguinte pela ex-chefe tocando um vídeo em que Edna mostrava bebidas da casa para amigas. Ela diz ter sido uma brincadeira, mas que Paula insistiu para que a mesma assinasse sua demissão — o que foi negado.
Edna teria sido expulsa antes de terminar seu almoço. Em seguida, ela e sua família, que moravam em um apartamento da família Veloso no Leblon, foram convidados a se retirar do imóvel.
Questionada sobre seu sentimento, Edna diz não ter medo da investigação policial, que ainda não a intimou para testemunhar.
“Não odeio a Paula, só sinto muita tristeza por tudo ter acabado dessa forma. Eu não tenho medo de investigação policial, porque eu sou uma pessoa honesta. Mas eu não tenho medo da investigação policial que seja justa, que não plantem nada contra mim. Eu abaixei a cabeça para ela por 22 anos, mas essa não é uma humilhação como a das coisas que ela falava para mim, para me deixar mal. Agora ela mexeu com minha honra. E eu sempre fui honesta”, afirma.
O que diz a defesa de Paula Lavigne
Em nota, a advogada da empresária, Simone Kamenetz, afirmou que a acusação feita pela ex-funcionária e seus advogados é “uma estratégia de contar inverdades, buscando julgamento pelo tribunal da internet”.
Leia a íntegra de seu comunicado a seguir:
“O que está havendo é uma estratégia adotada, fora dos autos dos processos, em que essa discussão deveria ficar adstrita, para usar as mídias para contar inverdades contra Paula Lavigne e Caetano Veloso buscando um julgamento pelo tribunal da internet, onde não importam provas e verdades, mas tão somente narrativas falaciosas, perpetuando, de maneira irreversível, essa retórica nas milhões de páginas da internet.
Essa tática provocativa, inclusive, é bastante conhecida. Fatos inverídicos ou absolutamente fora de contexto são usados como iscas, para, ao mesmo tempo em que cria essa narrativa maniqueísta, busca incitar a outra parte para que entre numa guerra de narrativas que lhe arraste para fora do foro que realmente importa: a justiça.
Paula tinha dito que não iria falar fora dos autos, porque não quer expor a ex-funcionária publicamente. Os fatos que estão sendo tratados em juízo são gravíssimos, todos muito bem fundamentados em provas incontestáveis. Mas não é possível ficar inerte diante de acusações inverídicas, com cunho difamatório e calunioso que estão sendo feitas contra Paula e Caetano.
Paula jamais acusou a ex-funcionária de ter furtado os dólares que estavam guardados. Essa acusação é infundada, inclusive está comprovado pelos depoimentos que estão sendo prestados em sede de inquérito policial. Aparentemente, essa narrativa está sendo usada como uma cortina de fumaça para desviar o foco daquilo que, realmente, foi objeto da demissão por justa causa e que está – e será, no que ainda cabe provar – fartamente comprovado nos autos.
Paula é muito bem quista pelos funcionários e ex-funcionários. Esses funcionários ficam com ela 20, 30 anos, porque são bem tratados. Paula se preocupa com todos, e ajuda muita gente. Uma relação assim, de tantos anos, também tem suas rusgas, mas chamar isso de abuso é surreal, ainda mais considerando tudo o que o casal fez pela ex-funcionária e sua família.”